As discussões sobre a substituição do protocolo de Kyoto já estão a todo vapor. A ideia é uma redução mais drástica das emissões de poluentes no ar.
Em 1997, durante a terceira Conferência das Nações Unidas para a Mudança Climática (COP-3), firmou-se um acordo internacional para estabelecer metas de redução de emissão dos gases poluentes causadores do efeito estufa, que estaria ligado ao aquecimento global. O tratado, chamado de Protocolo de Kyoto - cidade onde foi realizada a negociação, no Japão -, foi ratificado por 174 nações e entrou em vigor em 2005. Nele, os países industrializados se comprometeram a reduzir em pelo menos 5,2% as emissões desses gases entre 2008 e 2012, em relação ao que era emitido em 1990.
Como o documento tem prazo de validade e irá expirar em 2012, um novo acordo está sendo discutido para substituí-lo. Em dezembro deste ano, a cidade de Copenhague, na Dinamarca, sediará a COP-15, que será a primeira reunião para redefinir as metas de Kyoto e preparar um novo protocolo. "O objetivo básico é uma redução mais drástica na emissão de gases do efeito estufa a médio prazo, já para os anos de 2020 a 2050, para não deixar o aumento da temperatura média global ultrapassar 2ºC", esclarece Tercio Ambrizzi, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Estudos indicam que a média da temperatura do planeta tem aumentado de 0,5ºC a 0,6ºC ao ano. "Se nada for feito e mantermos o ritmo de crescimento de hoje, os modelos matemáticos indicam que as temperaturas podem subir de 4 a 6ºC até 2100", alerta o professor, que participou da revisão do relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo esse documento, 90% do agravamento do efeito estufa seria de responsabilidade da ação do homem.
Embora a reunião de Copenhague aconteça somente no final do ano, as discussões em torno dela já estão a todo vapor. Mesmo os Estados Unidos, que não haviam se comprometido com o Protocolo de Kyoto, estão mais flexíveis às negociações do novo acordo. No último encontro dos membros do G-8 com os do G-5, no início de julho, na Itália, já se discutiram alguns números para diminuir as emissões de gás carbônico no mundo, e os países industrializados, responsáveis por 80% delas, concordaram com uma redução de 50%. As nações em desenvolvimento, porém, negaram-se a estipular metas. Atualmente, elas não são obrigadas a reduzir suas emissões de gases poluentes, apenas foi sugerida a colaboração delas. Mas o novo acordo deverá incluí-las nas metas. "Provavelmente, esses países também deverão ter alguma forma de comprometimento oficial. Uma proposta recente sugere que a redução seja proporcional à industrialização de cada país. Dentro disso, o Brasil teria uma meta de 4 a 5%. Para algumas nações, isso significaria reduções de 50%, 60% e de até 80% do que emitem hoje, como seria no caso dos Estados Unidos", diz Tercio Ambrizzi. Para ele, o grande desafio é fazer com que haja comprometimento do ponto de vista do corte de emissões sem prejudicar o desenvolvimento econômico. "Vai ser preciso conseguir uma fórmula para ajustar esses dois fatores". O professor destaca, para isso, a necessidade do desenvolvimento e emprego de novas tecnologias de energia limpa, como a eólica e a nuclear.
Essas tecnologias, no entanto, ainda possuem custos muito elevados. "Deve-se ressaltar que quase a totalidade dos povos da África queima lenha para cozinhar. Na Índia é bem pior, pois queimam esterco para sobreviver", afirma o professor Ricardo Augusto Felicio, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). "O que não fica claro para a população em geral é que esses acordos não enfatizam o benefício de se usar tecnologias baratas para os mais necessitados, ou seja, grande parte do mundo", completa.
Fonte: Nova escola
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